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veja Artigo original em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/uma-praga-da-ciencia-brasileira-os-artigos-de-segunda

1. Rascunho, rebatendo somente a crítica a "acesso aberto"
...

2. Rascunho, mais completo se houver fôlego, pegando os pontos principais do artigo

A possibilidade de publicação digital reduziu o custo e tempo de toda a cadeia de produção e editoração de artigos. Isso contribuiu para o crescimento de novos canais para publicação; ao mesmo tempo facilitou a criação de inúmeras fontes dúbias de conhecimento. Um recente artigo de VEJA alerta para o crescimento de periódicos sem credibilidade. Nestes vigora o "pay to publish", ou seja, paga-se uma taxa publicação e o artigo é publicado sem que existam mecanismos que possam assegurar a sua qualidade. O modelo pay-to-publish é um modelo de negócios explorado por editoras legítimas que tem repercursões variadas para a academia (alguns comentários aqui e aqui http://educacaoaberta.org/revistas-academicas-e-open-access http://educacaoaberta.org/prolificacy-and-open-access). Outro conceito que o artigo explora é o open access, que segundo a Iniciativa de Budapeste para o Open Access (2002), é a livre disponibilidade da literatura científica na rede (internet), permitindo a qualquer usuário ler, baixar, copiar, distribuir, imprimir, pesquisar ou ter o link de textos completos de artigos científicos. Entretanto, o referido artigo confunde o leitor quando mistura os conceitos de pay-to-publish e open access e argumenta que "todo meio científico desleixado é open access". O artigo tenta focar na questão da ética acadêmica  e trata do  "open access" de maneira rasa, o que pode levar o leitor a concluir que a abertura de publicações acadêmicas ou o crescente número de periódicos abertos contribui para o crescimento de periódicos e publicações de baixa qualidade. Abaixo, apontamos algumas das incosistências nos argumentos.

Ao contrário do que foi apontado no artigo, o "peer review" (revisão por pares) é praticado por todos os periódicos de qualidade (abertos ou fechados) e não tem relação com a replicação de estudos. A revisão por pares busca a revisão do texto por pares acadêmicos. Seria inviável e lento o avanço da ciência se todos os estudos tivessem que ser replicados antes de publicação, pela própria lógica de progresso científico utilizada no artigo. Espera-se sim que estudos possam ser replicados por outros cientistas e pesquisadores, sem que isso seja feito durante o processo de revisão do texto em si. A revisão por pares visa analisar a qualidade, contribuição, coesão e clareza do artigo através de uma análise de sua metodologia, base teórica, dados e argumentação. Baseia-se principalmente na integridade e idoneidade dos que enviam seus artigos para avaliação. Ao revisor usualmente só há acesso ao texto do artigo em si. Por força do movimento para acesso aberto (e dados abertos) é cada vez mais comum que autores disponibilizem seus dados de maneira acessível, o que somente fortalece o processo de verificação. Vale ressaltar que a prática de "replicação" é  utilizada como critério de sucesso em algumas áreas do conhecimento e não é quesito para o desenvolvimento do conhecimento científico. Em outras áreas do conhecimento, replicar um "experimento" não faz qualquer sentido.

A autora discute o caso Sokal como um exemplo onde um artigo, sem qualquer mérito científico, foi aceito por uma revista acadêmica. No entanto o periódico em questão, Social Text, é tradicional, endossado por uma universidade (desde 1992), pago e fechado. A crítica do autor (Sokal) na época, não foi a periódicos abertos, nem a periódicos digitais, mas ao processo de avaliação e aceitação de artigos, com especial interesse em atacar discussões vácuas, esotéricas e pouco fundamentadas sobre ciência advindas da sociologia da ciência e estudos culturais. Ironicamente, a Social Text, na época da publicação, não praticava o peer review (http://linguafranca.mirror.theinfo.org/9607/mst.html).  Era portanto uma "revista" e não um periódico científico nos moldes sendo discutidos no artigo da revista VEJA. O caso Sokal traz a tona outras questões éticas ignoradas pela autora do artigo. O processo de construção do conhecimento e a "roda" da ciência dependem da idoneidade dos autores. Nesse caso, houve a submissão de um artigo patentemente falso para uma revista respeitada. As críticas à Sokal foram tão grandes quanto as suas próprias críticas ao Social Text. O "peer review" tem seus defeitos, mas o caso Sokal em nada apoia o argumento contra o acesso aberto.

O uso de critérios únicos com "rankings" ou "impact factors" (fatores de impacto) não são uma solução para este problema. A valorização excessiva de métricas como o Impact Factor (JIF) e Journal Citation Reports da Thomson Reuters contibui para essas distorções e é apenas evidência de um sistema que urgentemente precisa ser repensado (http://www.labtimes-archiv.de/epaper/LT_13_05/). Os métodos do Qualis não são unanimidade, mas impactam igualmente periódicos abertos e fechados. Mesmo periódicos considerados de "alto impacto" não são incluídos nos processos de avaliação. O renomado Educational Technology Research & Development (ETR&D, http://link.springer.com/journal/11423) bem como o British Journal of Educational Technology (http://onlinelibrary.wiley.com/journal/10.1111/%28ISSN%291467-8535), alguns dos periódicos mais tradicionais e bem avaliados na área de Tecnologia Educacional (publicados de maneira fechada) não estão incluido na base Qualis (http://qualis.capes.gov.br/webqualis). O mesmo acontece com periódicos de "alto impacto" como o Journal of  Educational Technology & Society( http://www.ifets.info), que também é um periódico "open access" com "peer-review".

Ao jogar o conceito de "open access" no meio de uma trama que inclui ética acadêmica, digitalização, "pay-to-publish", medidas de impacto/qualis, e outros dilemas da vida acadêmcia, alguns pondem concluir que "todo meio científico desleixado é open access" (não é) ou que "open access" contribui para a proliferação de artigos de segunda (também não).




Original com alguns comentários embutidos (coloridos)
Um espectro assombra a comunidade científica in­­ternacional: o dos periódicos sem credibilidade. Não é difícil entender o porquê. Alguns  dos avanços mais extraordinários da ciência vieram a público pela  primeira vez sob a forma de artigos editados em veículos de peso. Neles  prevalece aquilo que está no coração da própria metodologia científica, a  peer review, ou seja, a revisão pelos pares. Esse processo  visa a replicar os resultados de um estudo, a fim de comprová-lo  (não é a mesma coisa, e é positivista do modo mais caricato possível, como se toda pesquisa fosse feita com esses critérios), sem a  presença de seu autor ou autores. Não há outra maneira de fazer a  ciência merecer esse nome — e andar para a frente (vide acima). Dois exemplos bastam  para dar a dimensão exata da importância dos autênticos periódicos  científicos: a teoria da relatividade, do alemão Albert Einstein, teve  seu registro de nascimento documentado numa série de quatro ensaios  veiculados entre março e setembro de 1905 nos Annalen der Physik (@ewout apontou erro),  um dos mais antigos mensários do gênero, fundado em 1790, em Berlim; já  a estrutura do DNA, desvendada pelo britânico Francis Crick e pelo  americano James Watson, foi apresentada ao mundo num breve texto  assinado por eles na edição de 25 de abril de 1953 da Nature,  prestigiosa revista inglesa cujo número de estreia circulou em novembro  de 1869. Além de colocarem as novas pesquisas — e seus autores, claro —  no centro das atenções, as publicações que primam pelo rigor científico  impulsionam os estudos nas áreas envolvidas, fazendo girar, assim, a  roda do conhecimento.

Um fenômeno recente, no entanto, está pondo em risco esse círculo  virtuoso: a proliferação de editoras que mantêm periódicos cujo único  obstáculo para a veiculação de artigos pseudoacadêmicos é o pagamento de  uma taxa de publicação, que varia muito, mas costuma começar na casa  dos 600 dólares. Pouco importa se os textos se baseiam em má ou nenhuma  pesquisa; se são originais ou plagiários; se obedecem a mínimos  critérios de metodologia e seriedade. Como a produção ensaística é um  valioso critério para ascensão profissional no universo acadêmico, e  tendo em vista que a publicação de artigos em veículos de credibilidade  costuma seguir um implacável e lento processo de seleção (nem sempre, o processo varia mesmo para periódicos de alto impacto, que estão buscando reduzir esse tempo), um número cada  vez mais expressivo de cientistas tem recorrido ao expediente de pagar  para ter, rapidamente, seus textos editados. Se para os pseudocientistas  o volume de artigos publicados pode permitir galgar importantes degraus  de prestígio intelectual — inflando também a vaidade pessoal —, para os  proprietários dos periódicos científicos de segunda linha, como em  qualquer negócio, o aumento de clientes costuma significar um  faturamento maior.


Não era esse, é verdade, o objetivo inicial das publicações do chamado modelo open access,  surgidas na Europa e nos Estados Unidos na década de 90. A ideia era  ampliar a difusão do conhecimento e oferecer mais oportunidades aos  intelectuais de países em desenvolvimento (dentro várias outras razões). Não demorou, porém, para que o  escopo ganhasse outros contornos. Abrindo mão do rigor — a americana Science  (1880), para se ter uma ideia, publica apenas 7% dos artigos que recebe (mas em muitos casos o AR de jourals abertos é menor do que fechados e nem sempre indica qualidade, por exemplo http://designer.50g.com/journals.htm)  — e reduzindo ao mínimo o tempo para a veiculação dos textos, os novos  periódicos viraram um atalho para os maus cientistas e uma boa fonte de  renda para quem se dispôs a, digamos assim, empreender nesse novo ramo.  As revistas e jornais científicos tradicionais não cobram  especificamente pela edição de artigos, embora, muitas vezes, exijam que  os textos venham acompanhados de gráficos e fotos, o que incorre em  custos, e, após a divulgação, cobram de todos aqueles que quiserem  visualizar o paper — em média, 32 dólares. De qualquer modo, não parecem exigências descabidas (sim, são - muito para argumentar aqui)(Sim, é descabido. Entre outras coisas, porque boa parte desse conhecimento é custeada com recursos públicos. Logo, deveria ser de acesso público).
Temas principais



Nem todo veículo open access, ressalte-se, tem como principal característica o desleixo científico; entretanto, todo meio científico desleixado é open access (não, Sokal, apontado abaixo é um exemplo e existem outros modelos e exemplos disso, como acontece no mercado editorial).  O Brasil aderiu a esse modelo com preocupante entusiasmo (o mundo inteiro). Já são mais  de 1 000 publicações no gênero (source), o que põe o país atrás apenas dos EUA  (onde elas passam de 1 200). Ao mesmo tempo, um rápido levantamento  on-line permite constatar que é grande o número de pesquisadores  brasileiros que recorrem a periódicos questionáveis(mostre-me a fonte), daqui ou do  exterior, para divulgar seus trabalhos. Impressiona ainda mais o fato de  muitos desses veículos serem bem avaliados pela Coordenação de  Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento  à pesquisa ligada ao Ministério da Educação. Sob sua batuta está o  Qualis, um sistema de avaliação da qualidade dos periódicos científicos,  que atribui a eles conceitos A, B e C, decrescentes, segundo  determinados parâmetros (esses parâmetros são transparentes?). Tais notas são consideradas por universidades e  instituições na hora de conceder financiamentos ou mesmo promoções aos  pesquisadores que frequentam as páginas daqueles veículos. Se as  publicações que desprezam o apuro científico forem bem avaliadas pela  Capes — e isso ocorre, como se verá adiante —, é evidente que decorrerá  disso uma grave distorção.Haverá pesquisadores beneficiados a partir de  falsos méritos (o que também acontece com periódicos não-OA). E isso, muitas vezes, com recursos públicos. Agora, o  pior: é possível detectar entre os clientes dos meios sem credibilidade  professores que fazem parte da Capes, ou seja, exatamente aqueles que  deveriam zelar pela excelência da produção acadêmica do país.
Resposta:

Se fossem quadros de baixo escalão, já seria péssimo. Contudo, o  próprio presidente da instituição, o biomédico Jorge Almeida Guimarães,  aceitou se valer de um veículo de credibilidade duvidosa para publicar o  trecho de um livro do qual é coautor. Mediante pagamento de 670 euros  (cerca de 2 100 reais), a editora croata InTech Open  disponibilizou na internet o capítulo “Lesão renal aguda induzida por  cobras e artrópodes venenosos”, escrito por Guimarães e dois  pesquisadores das universidades federais de Minas e do Rio Grande do  Sul. No texto, eles afirmam que picadas de cobras e de artrópodes  venenosos são importantes problemas de saúde pública negligenciados  pelas autoridades brasileiras e estrangeiras. A InTech, que já mudou de  nome pelo menos quatro vezes desde que foi fundada, em 2004, está na  lista negra de periódicos científicos elaborada por Jeffrey Beall,  bibliotecário da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, uma  referência no assunto. A exemplo do índex preparado por Lars  Bjørnshauge, ex-diretor das bibliotecas da Universidade de Lund, na  Suécia, a relação montada por Beall é consultada periodicamente por  instituições e pesquisadores do exterior na hora de fazerem suas  avaliações. Procurada por VEJA, a assessoria de imprensa da Capes  respondeu que Guimarães não tinha 
disponibilidade de agenda para tratar  do assunto.

Outro acadêmico cuja posição implicaria cuidar da qualidade das  pesquisas no Brasil, mas que também usufrui as facilidades dos veículos  de baixa credibilidade, é Jailson Bittencourt de Andrade, professor da  Universidade Federal da Bahia, conselheiro da Sociedade Brasileira para o  Progresso da Ciência e consultor do CNPq, da Capes, da Fapesp e da  Finep. Andrade — que não respondeu ao pedido de entrevista da reportagem  — assina como coautor um texto publicado na Scientific Research Publishing  (Scirp) ao preço de 1 000 dólares (pouco mais de 2 500 reais, quem pagou?). Essa  editora chinesa é a mesma usada pelo egípcio Mohamed El Naschie,  pretenso contestador da teoria da relatividade, cuja trajetória de  derrapagens foi apontada pela Nature em 2008. Em 2010, a  revista publicou outro texto alertando para as práticas antiéticas da  própria Scirp, que copiava artigos respeitáveis de outros sites e os  adicionava às páginas de seus mais de 200 jornais com o propósito de  fazê-los parecer confiáveis. Além disso, a Scirp acrescentava ao seu  quadro editorial nomes vistosos que nem sabiam de sua existência.

Esse recurso, aliás, é mais frequente (quão frequente?) no submundo acadêmico do que se  poderia supor. Dele se vale, para ficar em apenas mais um caso, a  editora Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI) — onde  também constam artigos de Andrade. O fundador da MDPI, Shu-Kun Lin, tem  seu nome associado a casos de corrupção e plágio.

A editora diz estar baseada na Suíça e até cobra pela publicação de  artigos na moeda local, no entanto grande parte de seus funcionários  fica na China. O biólogo e geneticista italiano Mario Capecchi, que  ganhou o Nobel de Medicina em 2007, foi incluído no conselho editorial  da MDPI sem ser consultado. Nessa problemática editora, que cobra 1 600  francos suíços (4 200 reais) para veicular artigos científicos, foi  publicado o paper “Diagnóstico molecular e patogênese da  hemocromatose hereditária”, que tem entre seus autores o pr­ó-reitor de  pesquisa da USP, José Eduardo Krieger. “Em trabalhos escritos a muitas  mãos, nem sempre minha vontade prevalece”, justifica-se Krieger.

Pode-se alegar que muitos pesquisadores acabam publicando artigos em  veículos sem rigor acadêmico induzidos pela pontuação que eles ostentam  no Qualis. O nigeriano African Journal of Agricultural Research aparece com o conceito A2 na classificação da Capes (o problema são os critérios que afetam tanto OA quanto não), ou seja, apenas um degrau abaixo da nota máxima, A1, atribuída à Science e à Nature.  Pois bem: o jornal virou motivo de chacota na Indonésia no início deste  ano após aceitar um documento científico copiado da web e com o nome  dos verdadeiros autores substituído pelo de dois artistas da região.

A fim de testar a idoneidade de editoras do modelo open access  com perfil duvidoso, o biólogo e jornalista John Bohannon enviou um  manuscrito científico falso a 304 periódicos sediados em dezenas de  países. Um deles foi a publicação brasileira Genetics and Molecular Research  (GMR), de propriedade do biólogo Francisco Alberto de Moura Duarte,  professor titular aposentado da Universidade de São Paulo e presidente  da Fundação de Pesquisas Científicas de Ribeirão Preto. Além de o  trabalho conter erros crassos, os biólogos que o assinavam (Roboodee  Agnor, Annyassee Barree e Bellakah Motoday) foram simplesmente  inventados, assim como o Instituto de Medicina Wassee, do qual diziam  fazer parte, supostamente sediado na Eritreia. Das 304 editoras, 157  caíram na armadilha do americano e publicaram o artigo falso. A GMR, que  tem jornais classificados com as notas A1 e A2 no Qualis (falha do Qualis, em vez do Open Access), estava entre  elas. “O jornalista agiu de m­á-fé”, defende-se Duarte. 

A experiência de  Bohannon, que rendeu uma longa reportagem na Science no ano  passado, lembra um escândalo que ficou conhecido como Caso Sokal. Em  1996, o físico e matemático Alan Sokal, da Universidade de Nova York,  enviou propositalmente um artigo-embuste para a revista pós-moderna  Social Text (periódico fechado, tradicional), vinculada à Duke University Press. A ideia era comprovar  que um ensaio cheio de meias verdades e teorias sem sentido poderia ser  publicado se fosse bem escrito e exaltasse as posições ideológicas dos  editores. O paper afirmava, entre outras coisas, que o número  pi, uma das mais antigas constantes da geometria, não passava de um  produto do pensamento ocidental, ou seja, se tivesse sido descoberto por  chineses, não seria igual a 3,1416 — e ainda assim foi publicado sem  restrições. Simultaneamente com a veiculação da Social Text, Sokal  anunciou a fraude em outra publicação, a Lingua Franca, e descreveu o  artigo como “um pasticho de jargões esquerdistas, referências  aduladoras, citações pomposas e completo nonsense" (sem aqui analizar a repercursão negativa dessa atitude de Sokal e os problemas de peer review para todos os periódicos, não só OA, o que  justamente bateu em cima da noção e mérito do "peer review" como um  todo, que foi apontado como a "máquina" da ciência no primeiro parágrafo).

Embora os efeitos perversos dos periódicos científicos desleixados  sejam ainda pouco discutidos (os efeitos são causados pelos processos de avaliação falhos. Os perídoicos ruins são subprodutos deles +1)— e até pouco conhecidos — no Brasil, em  outros países já provocaram terremotos acadêmicos. Em fevereiro deste  ano, Ibrahim Gashi, reitor da Universidade de Pristina, em Kosovo, foi  parar na imprensa por divulgar artigos em várias revistas suspeitas. Seu  objetivo era acelerar um processo de promoção. Os estudantes da  universidade se revoltaram e precisaram ser contidos pela polícia. A  situação só se acalmou quando Gashi renunciou. Caso similar ocorreu  naquele mesmo mês na Universidade da Islândia, onde Þórhallur Örn  Guðlaugsson, professor associado de administração, que ganhava bônus por  texto publicado, foi suspenso após a descoberta de que se valia de  veículos sem credibilidade para divulgar seus artigos.
A revolta dos estudantes de Kosovo é completamente justificável. Ao  usufruir os serviços de um jornal, revista ou site acadêmico que tudo  publica mediante pagamento, o pesquisador contribuiu para uma cadeia de  equívocos ( processos de avaliação falhos, mais uma vez)— que pode até influenciar na escolha de uma universidade bem  posicionada num ranking de instituições de ensino superior baseado, em  parte, na produtividade do corpo docente. Tal tipo de distorção,  infelizmente, já alcança o Brasil. Na análise da Thomson Reuters,  empresa com a maior base de dados sobre trabalhos científicos no mundo, o  país galgou onze posições, entre 1993 e 2013, no ranking das nações que  produzem a maior quantidade de estudos — hoje ocupa o 13º lugar (argumento baseado na produtividade brasileira - frase anterior. Ou seja, o Brasil produziu mais, e foram publicações "vazias" e por isso subimos?).
Se esses estudos fossem de boa qualidade, teriam impacto em outro levantamento, o da revista britânica Times Higher Education (não necessariamente)(mostre-me a relação de causa ou efeito, ou pelo menos que existe correlação).  Trata-se do mais respeitado ranking internacional de universidades, que  leva em conta treze indicadores para elencar as 500 melhores  instituições de ensino superior do mundo. A excelência das pesquisas é o  item que mais influencia a classificação. Há anos que apenas duas  universidades brasileiras figuram entre as 500 e, de 2011 a 2014, tanto a  Universidade de São Paulo (USP) como a Universidade Estadual de  Campinas (Unicamp) perderam posições — a USP caiu 35 e a Unicamp, 38.  Diz o editor Phil Baty, responsável pelo levantamento da Times Higher Education:  “O Brasil não deve se preocupar em aumentar o volume de suas  publicações, mas, sim, focar em estudos de alto impacto que ampliem os  limites de nossa compreensão do mundo” (e como ficam os critérios das próprias universidades, CAPES e agências de fomento? vão mudar?). Em outras palavras, as  instituições acadêmicas do país precisam não perder de vista que  veículos científicos de segunda só publicam artigos de segunda. E, com  eles, a ciência não vai a lugar algum.